segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Ler Lobo Antunes

Confesso que deve tratar-se de uma limitação minha. Nunca consegui ler António Lobo Antunes. As crónicas em revistas, apenas de vez em quando. Livros, nunca. Não consigo entender a sua forma narrativa.
Apesar deste handicap, há uma coisa que gosto neste autor: muitos dos seus títulos são uma surpresa agradável. Por exemplo, o último: "Não é meia noite quem quer". É pura poesia.
Já tinha o tinha feito com outras obras: "Eu hei-de amar uma pedra", "Não entres tão depressa nessa noite escura", ou "Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?".

sábado, 27 de outubro de 2012

Winston Churchill

Esta biografia de Winston Chuchill, da autoria de Sebastian Haffner, faz parte da colecção de livros de bolso "A minha vida deu um livro", lançada pelo Expresso.

O segredo não deve ser revelado no início, mas Winston Churchill teve uma vida alucinante. Entre o céu e o inferno, este político inglês de dimensão mundial viveu uma vida cheia de reviravoltas. 


Mudou duas vezes de partido, defendeu posições isoladamente contra as vozes maioritárias, teve derrotas e humilhações estrondosas, tinha um espírito militar mas é reconhecido como político, defendeu ideias próximas das de Hitler, demonizou Hitler e percebeu o perigo que representava antes de todos... Tinha a ideia de que o destino lhe reservava um desígnio maior, e encontrou-o quando ascende a Primeiro-ministro em 1940. 

Nascido em 1874 numa família de classe alta decadente, Winston Churchill foi um jovem medíocre, que falhou por completo na escola. Mudou esta percepção quando encontrou a sua principal vocação: a guerra. 

Participou em várias campanhas, em vários países, e irritou muitos políticos e militares com os seus escritos sobre as guerras de que fez parte. Ele tinha uma visão, ele sabia como fazer a guerra. Foram estas experiências na frente de batalha que lhe permitiram escrever e ter projecção no início do século XX. 

Partidariamente, começou no Partido Conservador, mas em 1904 “atravessou o corredor da Câmara” e tomou lugar na bancada dos Liberais. Passou a ser odiado e visto sempre com desconfiança. Mas é com os Liberais que chega ao governo, sendo ministro em várias pastas. Atinge o auge ao tornar-se Primeiro Lorde do Almirantado, ou seja, responsável pela Marinha Real Britânica, em 1911. “Com quase 37 anos de idade, Churchill estava, mais do que nunca, no seu elemento. Reinava agora sobre a maior armada do mundo e reinava de uma forma quase absoluta, sem a intervenção de qualquer outra pessoa. Reorganizou-a, constitui um Estado-Maior, virou todos os planos de guerra do avesso, ordenou que o aquecimento em toda a armada fosse convertido de carvão para óleo, mandou construir canhões maiores para os navios (na realidade, os maiores até à época), conseguindo tudo isto sem a oposição de almirantes ou capitães.” 

Mais tarde volta a ser ministro. E em 1924 volta a mudar de partido, juntando-se novamente aos Conservadores. Olhado sempre com desconfiança, vai escrevendo sobre as guerras e discursando sobre política. 

Entre 1929 e 1939, ou seja, entre os 55 e os 65 anos de idade, teve uma longa passagem pelo deserto. É neste período que escreve ainda mais, sobretudo sobre política internacional, mas nada do que escrevesse ou dissesse tinha o menor efeito. 

É sempre contrário às políticas de apaziguamento com a India, com Hitler, com os socialistas (o Partido Trabalhista surge na Inglaterra e irá acabar com a hegemonia entre conservadores e liberais). Este permanente espírito “do contra” será uma constante na sua convivência com os Primeiros-Ministros Asquith, Lloyd George e Chamberlain. 

Quando a Alemanha declara guerra à Inglaterra, em Setembro de 1939, Churchill é chamado novamente a assumir o Almirantado. Em Maio de 1940, torna-se Primeiro-ministro, sendo também Ministro da Defesa. 

Enquanto Primeiro-Ministro, terá uma acção incansável no sentido de derrotar Hitler. “Graças a Churchill, a Inglaterra atravessou-se no caminho da Alemanha em 1940, num momento em que esta quase parecia ter conseguido subjugar tudo à sua volta. Churchill obrigou a Inglaterra a agir contra os seus próprios interesses, mas de uma forma calculada ao milímetro. Esta guerra obrigou a Inglaterra a arriscar tanto a sua existência física como a sua existência económica. O país defendeu com êxito a sua integridade territorial, mas a economia ficou arruinada por muito tempo e o Império desintegrou-se. 

Graças a Churchill, não foi a Alemanha que passou a dominar a Europa, mas sim os Estados Unidos e a Rússia. Graças a Churchill, o fascismo deixou de desempenhar qualquer papel significativo no mundo, ficando o liberalismo e o socialismo a travar a luta pela primazia na política interna dos países.” 

Após a guerra, o governo cai e é derrotado nas eleições de 1945. Mantém-se como líder da oposição conservadora, voltando a ser Primeiro-Ministro entre 1951 e 1955, já fragilizado e com alguma política errática. 

Vive ainda até 1965.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Libros Libres

"Chama-se "Libros Libres" (Livros Livres, em português) e abriu o mês passado no bairro de Chamberí, em Madrid, capital espanhola. O nome é esclarecedor quanto à filosofia do espaço: trata-se de uma livraria onde, quem quiser, poderá levar um, dois, 10 ou 100 livros de forma totalmente gratuita.

Esta livraria inovadora, que conta também com um clube de vídeo, nasceu graças a uma iniciativa de uma organização não-governamental espanhola, a Grupo 2013, que se inspirou num local idêntico existente em Baltimore, nos Estados Unidos.

O conceito é simples. Os amantes da cultura que, num momento de crise, não tenham possibilidade de pagar pelos livros e de subscrever os serviços da livraria, podem ter acesso a eles sem qualquer custo, tudo com o objetivo de permitir a todos o acesso à cultura e ao cinema. 

Quem quiser, no entanto, pode tornar-se subscritor - a subscrição da livraria custa 12 euros por ano - para ajudar o espaço a crescer. Esta ajuda é também dada por particulares que oferecem os seus livros e também por algumas grandes editoras, que se associaram ao projeto e doaram vários exemplares de obras recém-publicadas ainda por estrear. 

Em declarações ao diário Clarín, Elisa Ortega, que integra a Grupo 2013 e é uma das funcionárias da livraria, explica que a reação das pessoas tem sido muito positiva: em média, há entre 20 e 30 visitantes por dia, na sua maioria jovens universitários e cerca de 50 novos livros são doados diariamente, o que tem enriquecido cada vez mais o espólio que terá agora entre 5.000 a 10.000 obras.

Projeto quer aumentar a riqueza intelectual

Para que o projeto continue a ser autosustentável, Ortega salienta que a ONG se responsabiliza por parte dos custos, contando com a generosidade dos subscritores na cobertura do restante valor. "Muita gente agradece-nos por levarmos a cabo esta tarefa e alguns doam-nos mais do que os 12 euros estimulados", revela a responsável, com satisfação.

Ainda assim, a essência da livraria não se perde. "Cada um faz o que pode, quando pode, e aqueles que pagam não dispõem de nenhum benefício adicional sobre aqueles que não pagam. O acesso está sempre aberto a todos os que necessitem", garante.

Os livros disponíveis interessam aos mais variados públicos, incidindo sobre temas tão diversos como a literatura infantil e juvenil, a política, a filosofia, a fotografia, a poesia e até o teatro. De acordo com Elisa Ortega, esta é "uma receita para a crise" para permitir que "as pessoas continuem a ler e se aumente a riqueza intelectual".

Clique AQUI para aceder ao site oficial da livraria "Libros Libres" (em espanhol)."

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Milagrário Pessoal

"Iara, jovem linguista portuguesa, faz uma incrível descoberta: alguém, ou alguma coisa, está a subverter a nossa língua, a nível global, de forma insidiosa, porém avassaladora e irremediável. Maravilhada, perplexa e assustada, a jovem procura a ajuda de um professor, um velho anarquista angolano, com um passado sombrio, e os dois partem em busca de uma colecção de misteriosas palavras, que, a acreditar num documento do século XVII, teriam sido roubadas à “língua dos pássaros”. Milagrário Pessoal é um romance de amor e, ao mesmo tempo, uma viagem através da história da língua portuguesa, das suas origens à actualidade, percorrendo os diferentes territórios aos quais a mesma se vem afeiçoando.” 

No fim, nem tudo é como parece ser… 

Uma das coisas que mais gostei neste livro, tal como noutros que já li do José Eduardo Agualusa, é ser embalado pelas palavras. Agualusa tem a arte de fazer magia com as palavras, levando-nos a territórios inesperados e que, recorrentemente, deixam um sorriso nos lábios. 

Por exemplo: 

“Me permita que lhe apresente Plácido Domingo! Este aqui não sabe cantar, não. Ainda assim eu o acho mais legítimo que o tenor. Ele é tão plácido e tão domingo que sempre que nos visita parece que o tempo abranda. A gente se esquece das horas.” 

“Os milagres acontecem a cada segundo. Os melhores costumam ser discretos. Os grandes são secretos.” 

“O que é a pátria?, perguntou. A voz era cálida e melodiosa como a de um hipnotizador. Uma pátria pode ser um cheiro. Um buquê de cheiros. Pitangas, terra molhada, o capim macerado. 
Ou um verso, acrescentou Alexandre Anhanguera, um simples verso. Há versos onde cabe inteira a minha pátria.” 

“Também eu cresci dividido entre a sala de estar e o quintal. Dividido? Escrevi dividido? Perdão, por vezes distraio-me e erro um pouco. Permitam-me que corrija: cresci acrescentado entre a sala de estar e o quintal.” 

“Difícil é um homem encontrar uma mulher diante da qual todas as restantes pareçam uma redundância.” 

Ao longo deste pequeno romance, vamos mudando de registo linguístico. Ora estamos no português de Portugal, ora vamos ao Brasil, ora estamos em Angola. Estas mudanças nas palavras e nas frases são um exercício muito enriquecedor e curioso. 

Adquiri este livro na feira do livro deste ano, onde tive oportunidade de pedir um autógrafo ao José Eduardo Agualusa. Um homem de uma simplicidade e simpatia assinaláveis.
Podem ler uma entrevista ao autor a propósito deste livro no Porta-livros.