domingo, 20 de maio de 2012

O Teu Rosto Será o Último


O primeiro romance de João Ricardo Pedro é notável!
Começo a ler a pensar o que virá aí... 
Com frases curtas, objectivas, cruas, cadenciadas, sou apanhado por este romance vencedor do Prémio Leya de 2011, e primeiro livro do autor. Surpreendente!
Com capítulos aparentemente autónomos, que constituem quase mini-contos, João Ricardo Pedro vai bordando a história de uma família com origem numa terra com nome de animal no lado sul da Gardunha.
De uma forma simples, crua, leve, e impetuoso, com humor e comparações surpreendentes, o autor junta episódios, conta histórias, diverge para algo aparentemente lateral...
A forma como enumera factos, coisas, situações, semelhante ao que fazia Saramago, confere velocidade à narrativa e dá-nos vontade de ler mais e mais.
E a surpresa que espreita a cada frase, a cada parágrafo, lançando momentos surreais no meio da narrativa, leva-nos a esboçar muitos sorrisos a cada página lida.
O centro do romance acabará por ser Duarte, o jovem promissor de uma família com muito passado. E é à volta dele que vão ficando impressas as outras personagens: o avô Augusto Mendes, a avó Laura, o pai António, a mãe, o amigo pobre... tudo no Portugal dos nossos pais, avós e até um pouco de todos nós.
Tem capítulos que são uma primorosa obra de arte, como por exemplo o da mãe de Duarte. Tem outros capítulos que aparentemente não acrescentam nada à narrativa, mas que dão gozo ler imaginando o prazer que deram a escrever.
“O teu rosto será o último” é um dos livros que mais gostei de ler nos últimos tempos.

Uma campanha de marketing muito bem feita, a unanimidade dos críticos sobre a qualidade da obra, o destaque permanente na feira do livro, e temos um sucesso literário escrito por um engenheiro desempregado.
Na feira, ao pedir um autógrafo, perguntei ao João Ricardo Pedro como tinha surgido a história: se já a tinha na cabeça, ou se foi sendo feita à medida que escrevia. Disse que foi esta última, e com tempo.
A teia ficou muito bem urdida.
Como ele dizia ao autografar o livro, “espero que goste”.
Eu gostei muito!

Entrevista do autor aqui.