domingo, 6 de janeiro de 2013

Livro

Este é a primeira obra que leio de José Luís Peixoto
Centra-se em Ilídio, um rapazinho que é abandonado pela mãe junto a um fontanário, e acompanha-o até à idade adulta, quando emigra para França. À procura da sua sorte, e atrás da Adelaide, a sua paixão correspondida. 
Relata as vivências de várias pessoas num ambiente rural, pequeno, provavelmente no Alentejo, e, também, a vida de quem emigrou para França. Num misto de campo e cidade, mas em que o padrão das personagens é semelhante: oriundas de um meio em que todos se conhecem, e em que todos sabem tudo de todos. E é neste ambiente que é possível criar situações que nos captam a atenção. 
Dividido em duas partes, os primeiros dois terços relatam as vivências acima. Depois há um corte abrupto, e surge-nos o último terço do livro, que me pareceu um momento de divagação do autor, entretecido com a continuação da parte anterior. Confuso para mim. 
O que me pareceu interessante nesta obra foi a utilização de palavras manifestamente populares, mas caídas em desuso ou para mim desconhecida. Enriquece o texto, deixa a curiosidade pelo significado, e fica um sorriso na cara. 
Por exemplo, “o touro estafonou-o todo”, ou “Vem. Estou pronta, meu amor, meu grande amor. Entra dentro de mim, estafona-me toda. Estou limpa e pronta.” Além desta, há muitas outras palavras estranhas que conferem graça ao longo de todo o romance. 
Ou a utilização de imagens como “quando a Adelaide saiu de trás do muro do chafariz, já uma vírgula iniciara o percurso em direcção ao seu útero.” 

Não tendo, na minha opinião, uma escrita luminosa, José Luís Peixoto consegue relatar bem uma história. E realço o termo “relato”, uma vez que parece que é disso que se trata. Os diálogos são praticamente inexistentes (se juntarmos todos os momentos de diálogo deste romance, não devem encher duas páginas), o que confirma que é possível escrever um livro ou romance sem diálogos. 
Quanto à escrita neste romance, achei notável, logo no início, o autor escrever várias páginas em que pôs o leitor a par de várias informações sem que a personagem Ilídio tivesse saído de junto do fontanário. É como se fosse projectado um vídeo, que pára num determinado momento, e surge uma voz off para nos contar outra coisa, e depois é retomada o movimento da imagem. Fantástico! 

Ler um novo autor é aprender uma nova linguagem. Peixoto, com este Livro, não me seduziu. Pode ser que no futuro faça uma nova tentativa.

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