sábado, 19 de julho de 2014

Dizem que Sebastião

Este livro é uma lufada de ar fresco.
É a forma mais  simples e resumida que encontro para caracterizar este Dizem que Sebastião, de João Rebocho Pais. 

Com uma escrita leve, divertida, irónica, o autor conta como Sebastião Breda, vice-presidente de uma grande empresa, passa um ano sabático após um desastroso jantar romântico com Margarida e um susto de saúde.
Nesse ano de paragem mergulha no mundo dos livros e seus autores, e vai trocando impressões com as respectivas estátuas pelas ruas de Lisboa. Assim, fala com Pessoa e Camões e Chiado; com Eça de Queirós, Bocage e Ramalho Ortigão... Percorre a geografia das estátuas de autores portugueses pelas ruas de Lisboa, e com eles vai conversando sobre os seus mundos e tentando obter ajuda para a sua decepção amorosa.
(Reparo: para quem não conheça Lisboa e os locais das estátuas, é provável que o livro gere alguma confusão).
Nesse período, Sebastião Breda começa a conhecer outra cidade, outros mundos, longe daqueles que observava do alto da janela do seu escritório, onde apenas via através de números e estratégias de vendas.

A ideia do livro é muito boa: colocar uma personagem a falar com estátuas de escritores sobre as suas obras e tentar que eles forneçam aconselhamento para resolver um desaire amoroso.

Em muitos momentos a escrita de João Rebocho Pais quase que se transforma, assumindo a forma do escritor-estátua com quem interage.
Além disso, o autor-narrador assume-se como interventor no decorrer da história, sendo claramente perceptível a semelhança com José Saramago: a forma como julga, avalia, desabafa, critica, ironiza várias situações é comparável ao nobelizado.

Sem comentários: