domingo, 25 de novembro de 2012

Jesusalém


Neste romance, Mia Couto conta-nos a história de Silvestre Vitalício através do olhar de Mwanito, seu filho mais novo. 
Silvestre Vitalício vive num mundo muito próprio, não só fisicamente como psicologicamente. Vai para longe da cidade e estabelece um mundo só para ele e os filhos: Jesusalém. Ali todos são rebaptizados numa “cerimónia de desbaptismo”. 
“E fomos convocados um por um. E foi assim: Orlando Macara (nosso querido Tio Madrinho) passou a Tio Aproximado. O meu irmão mais velho, Olindo Ventura, transitou para Ntunzi. O ajudante Ernestinho Sobra foi renomeado como Zacaria Kalash. E Mateus Ventura, meu atribulado progenitor, se converteu em Silvestre Vitalício. Só eu guardei o mesmo nome: Mwanito”. Além destas personagens, há ainda a jumenta Jezibela (criação muito interessante com quem Silvestre Vitalício irá estabelecer uma curiosa relação), e Marta, que sai de Portugal à procura do marido traidor, e que será a peça chave no desbloqueio do romance. 
Com aquela cerimónia dá-se o corte com o passado. Para Silvestre Vitalício não havia passado, nem outro mundo além daquele. “Se não há passado, não há antepassados”. E também não havia mulheres. “Mulheres são como ilhas: sempre longe, mas ofuscando todo o mar em redor”. 
A ligação com o mundo exterior é feita através de Tio Aproximado, que vive na cidade e regularmente vai a Jesusalém levar mantimentos. A relação entre ele e Silvestre Vitalício é turbulenta, e uma das razões é a falecida mulher de Silvestre, que também é irmã de Aproximado. 
Silvestre Vitalício é um homem calado, prepotente e violento, e todos se submetem às suas vontades. Apenas a partir da segunda parte (o romance está dividido em três “livros”), quando surge Marta, é que aquele equilíbrio é quebrado. 
Com personagens bem definidas psicologicamente, Mia Couto traça uma história simultaneamente simples e complexa, com momentos de humor, ternura e violência, e leva-nos para uma realidade muito particular.

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