terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O Príncipe e o Pobre



Inglaterra, século XVI.
Tom Canty, um rapaz pobre, serve-se da sua imaginação para escapar às agruras da vida e, entre brincadeiras, cria para si uma vida palaciana cheia de riquezas, alimentada pelas histórias que lê nos livros que o bom padre Andrew lhe empresta.


Chega o dia em que um desses sonhos é mais forte do que ele e resolve sair de casa (se é que se pode chamar de casa a um quarto miserável onde vive com a mãe, o pai, a avó e as duas irmãs) decidido a conhecer um castelo e um príncipe de verdade.
Percorre a cidade até chegar a um estranho caminho que o leva até ao portão de um castelo, mas ao chegar mais perto é brutalmente barrado pelo guarda. Eduardo, o príncipe de Gales, que assiste a tudo, vem em seu auxílio e convida-o a entrar nos seus aposentos. Trocam confidências e o príncipe confessa-lhe que também ele sonha em brincar ao ar livre, longe dos seus deveres protocolares.
Descobrem que são ambos bastante parecidos e, inocentemente, resolvem trocar de roupa e é quando Edward sai do palácio, com os trapos de Tom, decidido a dar uma reprimenda no guarda que acaba por o escorraçar, não o reconhecendo.


E assim começa a aventura de um na pele do outro. Mark Twain serve-se de um e outro para criticar a sociedade da época, tecendo críticas mordazes à vida luxuosa da realeza e da nobreza em geral através de Tom pelo modo como, exageradamente, se vê rodeado de criados que se substituem a ele em todas as suas tarefas diárias, desde o acordar ao recolher (chega a ser cansativo ler a descrição que o autor faz de um gesto corriqueiro, levado ao exagero, como vestir-se).
Enquanto isso, o verdadeiro príncipe, e mais tarde rei Eduardo VI, é arrastado pela multidão, a quem tenta convencer de que é o príncipe de Inglaterra, não conseguindo mais do que gargalhadas e maus tratos. Vestido de andrajos, deambula pelas ruas de Londres, tido como um pedinte, testemunhando actos de crueldade e de violência permitidos e até decretados pelas leis em vigor, ficando genuinamente horrorizado por alguns e ainda com a falta de bondade de uma sociedade que se diz cristã.
Os acontecimentos precipitam-se, bem como o dia da coroação, onde Tom está prestes a ser coroado rei e a reinar de pleno direito. O momento é dramático, mas não deixa de ser comovente o ajuste de contas entre as nossas personagens, estando bem patentes os traços que caracterizam as obras de Mark Twain: a camaradagem e a amizade.

Depois deste curto período entre os clássicos, tenho um pedido a fazer a quem escreve e publica livros: regressem ao que é simples, esqueçam os arrebiques, as figuras de estilo, escrevam como quem fala cativando quem lê e vão perceber a beleza perdida da leitura que flui livremente. Está na hora! Quanto a mim, percebi finalmente…

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